Aniversário do Padre Cícero Romão

Aniversário do Padre Cícero Romão

Categoria: Basílica

24/03/2018 Por: Aline Salustiano


Numa carta, escrita de Roma, com data de 24.03.1898, o Padre Cícero Romão Baptista, saudando sua mãe e suas irmãs, sequência dizendo: “Hoje que faço 54 anos, véspera da Anunciação da Mãe de Deus. . .” Essa carta, trazida na bagagem do comerciante João Baptista de Oliveira, amigo do patriarca e de sua família, que viajara para visitá-lo, encheu de alegria os corações do povo no Cariri.

A carta trazia algumas poucas notícias daquele degredo a que se submetera o padrinho, para estar na cidade eterna, submisso e obediente ao que determinara seus superiores, os cardeais romanos, mas fiel à sua causa - a causa da fé de seu povo. Muitas vezes essa carta foi usada em textos de livros e jornais para representar a esperança do fenômeno religioso do Joazeiro, porque, em suma, ela revelava alguns detalhes daquela “via crucis”, com as dificuldades que encontrara, em meio à quase insensibilidade de tantos interlocutores.

Contudo, se o texto daquela carta revelava ansiedades, sofrimentos e angustias, de outra sorte, ele demonstrava o que significava a convicção e a grande fé de um homem que se entregou de corpo e alma pela felicidade terrena de seu povo e pela salvação de sua alma. Portanto, é de longa data que entre nós o mês de março encerra, dentre suas datas expressivas, essa celebração dos anos do grande aniversariante.

Agora contamos o centésimo septuagésimo quarto ano. Nesse ponto, Juazeiro do Norte e toda a nação romeira ainda hoje conservam a sua fidelidade festiva, “festeira”, exultante sobre essa data, porque parece mais uma vez que ao comemorá-la, é como se a dizer que ele está vivo, “o padre não morreu”.

Celebramos a sua existência como algo que nos relembra o caminho, a estrada, a missão, as conquistas. É da memória desse homem que emanam os mais significativos valores que continuam nos impregnando pela construção dessa civilização romeira. O que Juazeiro do Norte hoje representa nesse contexto de brasilidade, de nordestinidade, especialmente no plano de sua religiosidade, é um grande alento para o entendimento das razões que fazem com que o homem sertanejo não arrefeça a sua fé.

A despeito de, por sua própria salvação, em meio a um cotidiano que lhe agrega incertezas e profundas angústias diante da sobrevivência, como a que a vida lhe impõe, perversa e desumanamente, a retirar-lhe direitos inerentes à sua própria cidadania, como o trabalho, a terra, a segurança, o salário, a educação e a saúde. Juazeiro e seu Patriarca são, verdadeiramente, essa instância, essa reserva inegociável de suas referências com a qual ele está permanentemente reanimado e disposto para as batalhas que, enfim, parecem não vencê-lo.

Daí porque ele continua vindo, aos pés de sua Mãe das Dores, ao túmulo de seu santo padrinho, de modo particular no dia de seu aniversário. Então, 24 de março é dia de festas, um feriado “nacional” para essa nação de devotos e admiradores. É dia de muitas orações por essa felicidade possível na sua “Jerusalém terrestre”, é dia de acender e apagar velas, é dia de competições esportivas, é dia de comer bolo em praça pública, é dia de levar-lhe flores em procissão, é dia de cantos de alegria pela noite até à madrugada, é dia de ir ao seu túmulo e prantear – a sincera lágrima de uma saudade sentida, intimamente, por todos nós, milhões dos quais nem o conheceram.

Essa consagração que continuamos a tributar-lhe se associa pacientemente à grande expectativa que nutrimos, ansiosos pela continuidade das manifestações egressas da Santa Sé, iniciadas pelo ato generoso da reconciliação, e que esperamos continuem noutras direções do entendimento da Igreja sobre o padrinho dos nordestinos.

O nosso sentimento e a nossa postura parecem conter as expressões de todas as nossas convicções sobre sua santidade e o mérito deste servo de Deus que, enquanto viveu, não se cansou de nos demonstrar como se deve proceder para encontrar “o caminho, a verdade e a vida”. Padre Cícero foi o protetor de todos aqueles que nos precederam e essa proteção continua a existir na contemporaneidade, em todas as lutas pela cidadania e por todos os direitos de sua gente.

Foi, por assim dizer, um grande operário de seu povo. Esses motivos sobejos nos remetem à consideração de que um único dia não nos bastaria para tamanha e tão pertinente celebração. Particularmente, no calendário deste março de 2018, a celebração da graça pela existência do Pe. Cícero situa-se entre a festa de São José, padroeiro do Ceará, e a Páscoa do Senhor.   

 

Então, 24 de março é dia de festas, um feriado “nacional” para essa nação de devotos e admiradores. no calendário deste março de 2018, a celebração da graça pela existência do Pe. Cícero situa-se entre a festa de São José, padroeiro do Ceará, e a Páscoa do Senhor.   

Escrito por Renato Casimiro

Professor, Doutor pela USP/ Historiador 

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