Monsenhor Murilo e a Paróquia Centenária

Monsenhor Murilo e a Paróquia Centenária

Categoria: Basílica

04/12/2016 Por: Renato Casimiro


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Nesses quase cem anos vividos pela Paróquia-Matriz de Nossa Senhora das Dores, Mons. Francisco Murilo de Sá Barreto - o sétimo a assumi-la, dentre apenas cinco padres, dedicou quase 47 anos de sua existência para prover em alto estilo um exuberante vicariato que muito contribuiu e continua a fazê-lo, pela evangelização do povo nordestino. Foi, sem sombra de dúvidas, a mais profícua administração paroquiana em toda a sua história, exatamente porque foi a mais longa e a que o destino, trabalho e abnegação reservaram para esta trajetória o grande e eficiente caminho para a missão que estava escrita nas estrelas e que, uma vez posta mais claramente, determinou que essa terra se convertesse na grande paragem do romeiro sertanejo em busca de sua salvação. Apenas três desses párocos, os monsenhores Lima, Joviniano e Murilo responderam por quase um século de dedicação e zelo.

Quando Mons. Murilo faleceu em 2005 já seria possível dizer que, a despeito de tão precoce acontecido, na essência, ele não deixou uma obra inconclusa. Ao contrário, depois de longo e sombrio período de silêncio, a Igreja de Juazeiro retomava a iniciativa de seu Patriarca para escrever nas linhas de sua história uma das mais alentadas folhas de serviço pela grandeza da instituição e pela missão fundante da Igreja, identificada pela continuidade da própria missão ministerial do Cristo, para anunciar as boas novas dos Evangelhos. Murilo de Sá Barreto fez isso admiravelmente por onde passou: no território alargado do seu zelo pastoral, entre o chão paroquial e o universo da nação romeira, nas cidades, sítios e lugares espalhados pelos sertões, nas capelas e em nossas casas, sem limites. Com o tempo, na maturidade de suas reflexões revistas e ampliadas, tornou-se o agente primoroso que nos serviu para resgatar o significado grandioso daquilo que lhe precedeu no tempo e no espaço: o fenômeno religioso de Juazeiro. Em seu ministério, ele foi o primeiro em nome da Igreja a abrir-nos o coração, pleno da caridade cristã, na direção desejada da compreensão sobre o Padre Cícero.

A formação cidadã e religiosa de Murilo de Sá Barreto, de grande esmero por toda a sua vida, entre atenções populares e acadêmicas, deu-lhe essa garantia de que assevera com profundo conhecimento de causa as bases para um novo entendimento a caminho de sua reabilitação e um reencontro com sua Igreja. Quando me ocorre, como agora, refletir modestamente sobre esse papel que assumiu diante das romarias de Juazeiro, na perenidade dos tempos, tenho em mente com grande clareza o significado de suas palavras, na homilia dos dias simples, para compreender hoje os gestos concretos que alicerçaram o crescimento extraordinário dessa devoção à Mãe das Dores e a fidelidade do romeiro ao seu santo padrinho, líder e conselheiro. Nisso reside o grande valor desse homem que para ser fiel ao seu ministério começou por violentar-se a si próprio, despojando-se de preconceitos de seus seminários para assumir a voz interior de sua consciência amadurecida no convívio com os sertanejos, ansiosos por sua conversão e salvação.

Em Murilo de Sá Barreto, o Juazeiro e seu povo romeiro tiveram um soldado exemplar, um homem rigoroso com a liturgia de suas funções, como as mais simples no cotidiano, como aquelas em que se encontrava no seu ministério para todas as atenções paroquianas, dos sacramentos e da ação social, muitas vezes solitário, vivendo abandonos crônicos de sua própria Igreja, só tardiamente reconsiderado pela hierarquia. Isso, felizmente, nunca arrefeceu o seu espírito, altaneiro e humanitário, a ponto de minar lhe consciência e disposições para a missão. Assim se preservou até quando Deus, Nosso Senhor, o retira de nós para reuni-lo aos nossos santos, que é como nossa crença se anima e se conforta. Há onze anos, em um dia como esse de hoje – um domingo do Senhor, tivemos que renunciar ao seu convívio, alegre e prazeroso, para nos resignarmos diante da vontade do Pai. De lá para cá, felizmente, não se apagaram as imagens, o testemunho e a obra magnânima do vigário do Nordeste, havida e reconhecida pelo homem simples dos sertões e por todos nós que tivemos o privilégio de sua amizade e do seu serviço. Nas celebrações desse nosso primeiro centenário paroquial haveremos de nos lembrar com grande empenho tudo aquilo de mais importante que sua obra encerrou para que essa Paróquia Santuário, Basílica Menor de Nossa Senhora das Dores, continue sendo um marco importante do trabalho pastoral, onde Igreja e Nação Romeira continuarão unidas e fervorosas, para daí partir para anunciar ao mundo o grande amor de Deus.

Renato Casimiro - Professor e Historiador, foi amigo particular do Mons. Murilo.

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